domingo, abril 08, 2007

Vamos ao Cabeleireiro!!

Retomando a temática do post anterior, a partir de determinada altura desisti dos barbeiros e arrisquei uma primeira incursão pelos “cabeleireiros”, sendo que imediatamente percebi que todos eles partilham o mesmo sobrenome: “unisexo”!!

Desta forma, pensei que só trabalhavam elementos de um único sexo, realidade que me pareceu válida quando examinei o interior do estabelecimento pela montra.

Com o peito cheio e a barriga encolhida, entrei decidido a deixar o meu couro cabeludo entregue nas mãos de uma profissional do belo sexo, imaginando-me já sentado no cadeirão suavemente decorado com uns berrantes tons laranja e verde a ser rodeado de atenções e mimos estilísticos.

Uma senhora quarentona com vestígios de base suficiente para camuflar o Empire State Building encarregou-se diligentemente de me retirar o casaco e sentar-me numa suave cadeira para lavar a cabeça, num ambiente semelhante a um retiro espiritual no Tibete. Logo surgiu uma jovem com o cabelo apanhado que, depois de me vestir o equivalente a uma toga de advogado, recostou a minha cabeça de encontro à bacia, colocando a água a correr.

Foi nesta altura que percebi da pior maneira que este passo obedece a uma ordem natural da lavagem da cabeça nos cabeleireiros:

1 – A vítima incauta ouve a água a correr

2 – A água é apontada para o couro cabeludo do cliente

3 – O cliente apercebe-se nessa altura que a água está numa temperatura suficiente para escalfar um ovo em dois segundos

4 – O cliente dá um pulo na cadeira enquanto abafa um “dassssssss”

5 – A jovem lavadora pergunta inocentemente: “está muito quente???” e imediatamente diminui a temperatura do líquido sem esperar pela resposta óbvia da vítima

6 – De seguida afirma com convicção: “está melhor não está????”

7 – O cliente esboça um sorriso forçado afirmando “está melhor, obrigado” enquanto experimenta a sensação de alívio equivalente a ser retirado de um balde para depenar galinhas, concentrando-se para não explodir numa afirmação mais contundente e que envolvia metade da família da lavadora, bem como considerações menos abonatórias sobre a actividade sexual retribuída da jovem empregada!

De seguida, fui conduzido para um cadeirão de fazer inveja ao chefe lá do escritório, onde me sentei com atenções dignas de um monarca. Sim, porque em qualquer cabeleireiro a zona da lavagem da cabeça está separada pelo menos uns dez metros da zona do corte e arranjo do cabelo, o que nos obriga a levar a cabeça embrulhada numa toalha, qual Cármen Miranda de trazer por casa, para evitar deixar um rasto de pingos pelo soalho do brilhante salão.

Neste ponto, pude visualizar amplamente o salão, pelo que posso tecer algumas considerações que considero pertinentes sobre estes espaços comerciais:

- As clientes são sempre “meninas”, nem que tenham 150 anos e desloquem-se com a ajuda de uma cadeira de rodas motorizada, botija de oxigénio e um desfibrilhador de emergência.

- É usual ver-se uma “menina” com as mãos espetadas em direcção a um horizonte imaginário, enquanto uma jovem sentada num banco de criança enverniza as suas unhas e lhe pergunta por metade da família e pelos gostos televisivos recentes.

- Existem turbinas de avião colocadas na vertical, onde as senhoras de diversa idade colocam as suas cabeças, enquanto tentam ler revistas de mexericos. Sinceramente, a utilidade de tais utensílios ainda não me foi convenientemente explicada, pelo que só posso dizer que aquilo parece uma reunião de elementos dos narcóticos anónimos em plena experiência alucinogénea num hangar do aeroporto da Portela.

- As empregadas tentam desesperadamente falar mal da cliente anterior, caso esta seja conhecida da actual, mantendo esta cadência ao longo do dia.

De qualquer forma, confortavelmente instalado no meu poiso, aguardei a chegada de uma musa inspiradora com a tesoura na mão (o que obriga a evitar qualquer piada de cariz sexual, caso desejemos manter o nosso pescoço em bom estado).

Estava eu embrenhado nos meus pensamentos lascivos sobre o universo das cabeleireiras quando um ser bamboleante, cabelo eriçado, voz esganiçada e com evidentes problemas motores nos pulsos para segurar as mãos num ponto de equilíbrio horizontal se aproximou de mim e disse num tom arrastado, enquanto colocava as mãos nos meus ombros e iniciava uma busca incessante pelo meu cabelo, como se estivesse a procurar uma pepita de ouro: “Olllláááááá, Booooaaaa taaarrrddee, sou o Joooorrrgggeeee! Enttãããoooo, cooooommmoooo deeeesssejjjjaaa o caaabbbeeello??”

Devo reconhecer que o ligeiro pulo que dei no cadeirão, juntamente com o meu olhar embasbacado, enquanto simultaneamente procurava a saída de emergência mais próxima (ou um taco de basebol em alternativa), não foi a melhor reacção que se pode ter numa situação destas, mas tentei manter uma pose de naturalidade na resposta: “haa, hummm, haaa! Bem, então quando é que a senhora vem para me cortar o cabelo??? É você que lhe vai dar as minhas indicações??? Cof cof cof!!”

Todavia o Joooorrrggggeeee é que era o cabeleireiro, facto que constatei de imediato pelo manuseamento que efectuou com a tesoura e o pente, e julgo que, apesar da minha reacção nervosa, manteve um atendimento profissional e competente. Claro que uma alma mais negativista poderá ver alguma tentativa de vingança da parte do cabeleireiro nos dois golpes no pescoço e o ligeiro corte na orelha que originou uma deslocação de urgência ao hospital, mas não vamos dar importância de maior a incidentes que podem ocorrer em qualquer profissão!!

Verifiquei ainda, no decorrer da minha aventura no cabeleireiro que, ao contrário do que é normal nos barbeiros, o nosso cabelo é lavado novamente depois do corte, para de seguida ser secado e penteado, sendo que, no fim, colocam um gel pastoso, de modo a originar um penteado tão natural como a comida do Macdonalds!! (Ponto importante: Evitar por todas as formas qualquer contacto com amigos depois de sair do cabeleireiro, caso contrário será inapelavelmente gozado até ao fim dos seus dias!!).

O último acto cerimonial do cabeleireiro é a vistoria efectuada pelo espelho de mão, onde o(a) profissional percorre, num travelling emocionado, o nosso couro cabeludo de diversos pontos e ângulos, de modo a que o cliente possa dar a sua opinião.

Devo reconhecer que um dia hei-de arranjar coragem para afirmar com convicção:

“ Não, não gosto, está horrível, péssimo mesmo, quero o meu cabelo de volta!!”.

4 comentários:

Avelã disse...

João credo tu ou é 8 ou 80, ou não escreves ou então escreves cada post que mais parece um livro de saramago.

Andreia disse...

Jorge??? Por onde é que o menino anda?

OBELIX disse...

Agora sou eu que te digo... DASSSSSSSSSSSSSS, afinal tu nunca me enganaste.
Essa tesoura tinha aiguma, sim aiguma, forma expexial, sim expexial... é que esse trauma não pode ser só do corte.. será saudades do jjjjoooorrrrgeeeeeeee!, UI CA BOM ! GOSTAS POUCO GOSTAS, sim... carinho miu !

Frontwave disse...

Ó homem, a escrita é como o tintol: deve-se beber com moderação. E tu realmente encarnas esta frase! Escreves como bebes! Escreve lá qualquer coisa mais curtinha para que aqueles que têm uns minutinhos dispersos no trabalho possam apreciar as tuas obras... ou não! Dá-lhe com força hombre! Abração.