quarta-feira, março 28, 2007

Vamos ao Barbeiro!!

Admito que nunca tive muita paciência para ir cortar o cabelo. Aquele período de tempo precioso da minha vida, em que estou sentado numa cadeira enquanto alguém rodopia nervosamente pela minha cabeça empunhando uma instrumento de corte capaz de me arrancar a jugular pela raiz, sempre pareceu-me uma tremenda perda de tempo.

Até determinada altura da minha vida eu frequentava os "barbeiros de bairro", que se caracterizam essencialmente por serem estabelecimentos comerciais com 5 cadeirões colocados em fila, com a bacia de lavagem da cabeça colocada em frente dos assentos, espelhos a toda a dimensão das paredes frontal e traseira e uma decoração atrasada 50 anos no tempo, com abundantes frascos de Old Spice e Restaurador Olex nas prateleiras empoeiradas.

Curiosamente, mesmo quando estes barbeiros são alvo de obras profundas por parte dos seus proprietários permanecem com o mesmo meio século de atraso, sendo que a única grande alteração prende-se com o facto de os azulejos acompanharem as últimas tendências da moda "Emigrante 2007" e existir uma acumulação excessiva de pó de azulejo nos frascos de Old Spice.

Lembro-me perfeitamente de um barbeiro que tinha um tique interessantíssimo, que me divertia sobremaneira, relacionado com um movimento de abertura e fecho da boca ao ritmo de um peixe de aquário, sincronizado com o accionamento da tesoura. Mal ele parava de a abrir e fechar os seus lábios imobilizavam-se imediatamente, recomeçando com energia mal iniciava o manuseamento do referido instrumento.

Espalhados um pouco por todo a loja encontramos jornais desportivos e edições anteriores do Almanaque Borda D'Água, encardidos de penugem proveniente de diversos clientes.

As conversas são de um conteúdo filosófico deveras profundo, alternando entre as escolhas técnico-tácticas dos 3 principais clubes portugueses e as beldades dos programas televisivos nacionais.

Em alguns destes locais trabalha uma senhora loira oxigenada que foi “miss bairro” nos santos populares de 1956, altura em que tinha menos 75 Kg, e que trata das unhas dos “Senhores” (Nos barbeiros todos são ou “senhor” ou “meu caro amigo” ou “freguês”) e da manutenção estética do local (varrer para o canto os cabelos e lavar com visível enfado o couro cabeludo dos “fregueses”).

De modo a evitar problemas, que se podem revestir de alguma complexidade, devemos agir com uma certa precaução nos barbeiros, principalmente se levarmos em consideração que o profissional do corte detém o poder de manobrar um instrumento que facilmente colocaria o nosso lóbulo da orelha em apuradas dificuldades.

Desta forma, julgo que os seguintes conselhos são úteis para todos aqueles que pretendem frequentar este tipo de estabelecimentos:

- Nunca criticar demasiado o clube do Barbeiro. Eles têm a política de afirmar que não têm qualquer clube, o que não passa de uma treta comercial. O cliente mais desprevenido irá facilmente aperceber-se desta realidade quando, a seguir a uma crítica demolidora ao Benfica, sentir um ligeiro esguicho vermelho proveniente do seu pescoço!!

- Não tecer críticas, mesmo que construtivas, ao funcionamento do espaço comercial e/ou do profissional do corte. Eles possuem normalmente um elevado sentimento de protecção do seu ofício, pelo que caso enverede por uma atitude de crispação habilita-se a um corte de cabelo ridículo que o fará corar de vergonha, bem como a ser alvo de algumas atenções verbais mal saia da loja, tipo “empertigado de merda!!”

- Elogiar as propriedades químicas dos produtos que o barbeiro utiliza. Caso elabore alguma consideração menos favorável ao shampoo do Minipreço que lhe estão a espalhar na cabeça, o barbeiro certamente rangerá entre-dentes: “Tu deves é estar habituado a frequentar os cabeleireiros dos panilas!!”

- Se estiver num cadeirão ao pé da montra, e caso passe na rua um belo exemplar do sexo feminino, deverá rodar a cabeça de modo a acompanhar a deslocação da mulher. Este acto, para além de demonstrar a sua masculinidade é, acima de tudo, um acto de boa educação para o barbeiro, pois desta forma também ele poderá parar o seu trabalho e acompanhar a locomoção da bela jovem. Seguidamente irá verificar que o barbeiro encolhe-se até que o seu olhar fique geometricamente alinhado com a sua nuca, e irá perguntar “O meu caro amigo viu aquilo??”.

Atenção!! lembre-se que deve sempre responder que sim, mesmo que não tenha reparado em nada, pois caso contrário fica com fama de “larilas pega de empurrão!!”. Preferencialmente aplique observações espirituosas do tipo “bela tranca sim senhor!!” ou “Grande par de melões, hein??” ou “é toda boa, não é??”.

Como pode imaginar, se por infortúnio do destino, a bela mulher que passou pela montra é, na realidade, a filha do barbeiro, prepara-se para ficar sem sítio onde pendurar os óculos (não desanime, sempre pode ser confundido com o Niki Lauda!!).

- Por último, a questão da gorjeta, que deverá ser atribuída com o devido cuidado: Não dê a ideia de que é um acto de misericórdia. Nesta situação, o barbeiro dirá para os restantes fregueses quando você abandonar o local: “olha-me este, até parece que preciso do dinheiro dele!! Eu, que tenho casa própria na Brandoa, casa de férias na Costa e um atrelado montado no parque de campismo da Quarteira, que grande badameco!!” Mas, por outro lado, não deve ser sovina, nem transmitir essa imagem, pois aí o discurso muda para: “Já viram isto, como as pessoas são hoje em dia?? Trabalho das 07.00 à 23.59, tenho de sustentar 35 filhos, 5 pais, e 16 irmãos adoptados e este gajo pinga-me esta moeda de 20 cêntimos para a mão!! Isto fazia falta era 2; 2 salazares!!!!”

P.S. – Ahhhh, É verdade, se tem amor pela vida, não discuta a eleição dos “Grandes Portugueses” que decorreu na RTP1!!

segunda-feira, março 26, 2007

O Meu Mano!!

Várias vezes desejei dizer-te que és o meu herói.

Ainda hoje, à hora de almoço, quando te vi subir paulatinamente as escadas, com uma força interior que te fazia levitar pelos degraus, senti um impulso de te abraçar e dizer quanto eu gosto de ti e quanto tu significas para mim; quanto me orgulho do guerreiro em que te transformaste para derrotar o exército das trevas que o destino atravessou no teu caminho.

Quando finalmente entraste em casa e beijaste a minha filha/tua sobrinha, lembrei-me que vinhas de uma sessão de tratamentos no Hospital e aspirei a, pelo menos uma vez na minha vida, ter a força de vontade e a coragem que irradias.

Percebi a maneira como arfavas discretamente, ainda sob influência da subida, mas depois ouvi aquela tua voz colocada, forte e resoluta, mas ao mesmo tempo com um adocicado especial que sempre te tornou especial. A voz que te falhou nos momentos maus, mas que sempre regressou, sempre mais pungente e decidida, e que, não tenho qualquer dúvida, irá prevalecer.

Tudo o que tens passado, as inúmeras viagens a Paris; as semanas decorridas no hotel com a mochila da Quimioterapia às costas, mal disposto e enfraquecido; as operações a que te submeteste; os múltiplos exames, análises e diversos outros tratamentos, tudo isto irá, daqui a uns anos, aparecer-te na memória como uma época dolorosa, mas também como algo que te perspectivou a vida de outra forma, deu-te novas amizades, cumplicidades que nunca julgarias possíveis e um olhar sobre a existência humana que, certamente, transforma cada teu dia num momento único e especial.

Mas, acima de tudo, só te queria dizer isto, de uma forma singela: És o meu herói, o meu cavaleiro de capa espada, super-homem a voar pelos céus da nossa existência!!

domingo, março 25, 2007

Contributo para uma análise social do Tuning (Ou, como não entendo nada disso e vou mandar umas bocas!!)

O Tuning sempre foi uma realidade cuja essência nunca consegui alcançar em toda a sua plenitude. E, dado que também não se pode dizer que tenha uma notável abrangência de pensamento, certamente que a culpa é minha.

Vejamos, o Tuning caracteriza-se por determinados conceitos e práticas que encerram uma filosofia de actuação muito própria.

Normalmente os tunings adquirem carros baratos e populares (Fiat Punto; Citroen Saxo; Peugeot 206 são os mais utilizados) para, de seguida, gastarem pequenas fortunas a transforma-los com vista a tornar a viatura 20 Km mais rápida, habitualmente com recurso aos seguintes elementos, de modo obter a cópia terrestre de um caça F16:

- um tubo de escape de duas vias com características sonoras que o aproximam de um Airbus 320.

- 5 aleirons e saias laterais (mas o que leva tipos que querem dar ar de duros falarem embevecidamente das saias dos seus pretensos bólides??);

- Vidros escurecidos, para fumar umas ganzas à vontade e abusar sexualmente da esteticista vacarrona lá do bairro suburbano.

- Implantes metálicos no interior em quantidade suficiente para erigir duas pontes sobre o Tejo.

- Um botão com a inscrição “Nitro”

- Rebaixamento do carro, que significa, para aqueles que não sabem, diminuir a distância entre o chão e o chassis do mesmo, o que constitui, como é evidente para qualquer alma iluminada, a acção mais correcta para as estradas de alcatrão liso e sem buracos que caracterizam as vias portuguesas.

- Aparelhagem sonora com uma potência em termos de décibeis capaz de implodir um edifício de 5 andares. Para tal efeito, munem os carros com amplificadores que os organizadores do Rock in Rio Lisboa adorariam ter, Woofers e Subwoofers por baixo de todos os assentos e colunas instaladas no que, antigamente, era o porta-bagagens.

Ainda não percebi se esta tendência para debitar um som que ultrapassa largamente um concerto dos Metallica é derivado de problemas de surdez ou um qualquer ritual de aproximação entre clãs, tipo “He pá, parece que o Zeca Chibatas vem aí, já lhe estou a ouvir o cantante, daqui a 20 minutos está cá”. Normalmente o ritmo sonoro destas “músicas” pode ser definido da seguinte forma: “Pum; Pum; Pum; Untz; Untz; Untz; Pum; Pum; Pum; Untz; Untz” prosseguindo com um “iiiiiiiiuuuuuuuaaaaaaiiiiiiiiiiiiii” prolongado, regressando aos “Pum; Pum; Pum; Untz; Untz; Untz!!”

- Por fim, a instalação de luzinhas estroboscópicas e fluorescentes que colocam no interior e exterior do carro, o que, à noite, dá o efeito original equivalente a um frigorífico com a porta aberta numa cozinha escura.


Com estas transformações, o possante Fiat Punto está preparado para atingir a vertiginosa velocidade de 140 Km/hora, enquanto emite um ruído ensurdecedor quer do tubo de escape, quer da aparelhagem sonora. Aproveitam então para se juntar a um bando de Tunings que organizam corridas clandestinas onde se pavoneiam perante uma plateia composta por outros Tunings e elementos do sexo feminino cuja única frase que compreendem à primeira é “Anda cá minha linda, toca-me aqui na alavanca de velocidades!!”.

Nestas corridas levam as suas máquinas a atingir os seus limites mecânicos e, por vezes, acabam por compreender da pior forma que a linha que separa a estrada e o poste de electricidade é muito ténue.

Caracteristicamente, e fora dessas corridas e demonstrações de masculinidade primária (sempre achei que o tubo de escape duplo continha em si uma projecção fálica dos seus proprietários!!), os Tunings são extremamente cuidadosos. Passam horas a lavar, polir, aspirar e limpar as viaturas, como se estivéssemos perante uma obra-prima da arte.

E, caso passem por uma lomba ou elementos redutores de velocidade (bandas), são tão cuidadosos que, por vezes, provocam filas intermináveis!!

E porquê?? Porque rebaixaram os carros. O ruído característico de um carro tuning nestas circunstâncias é o seguinte: VRRRUMMMMMMMMMMMMM!! (mete a quinta) VREEEEEEUUMMMMMMMMMMMM; ihihihihihiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiihihihihhiiii (aproximação a uma banda redutora de velocidade) hiiiiiiiiiiiiiiiiiii vraaaaaeaaaeaaaaeaaae (1 Km/hora a passar cuidadosamente a banda de modo a não partir o chassis ao meio) vreeeeeeeeeeeeeeeeeee (a traseira do carro acaba de passar a banda) VRUMMMMMMM (primeira) VRUUUUUUMMMMMMM (segunda) VRUUUUUUMMMMMMMMMMMM (terceira) ihihihihihihihihihiiiiiiiiiiihihihiiiiiiiiiiiiiiiiiii (Porra, outra banda?????).


Mas, meus caros amigos(as) deixei propositadamente para o fim o elemento mais importante de um verdadeiro tuning, aquilo que o define em qualquer lugar e tempo:

- O chapéu com a aba para trás!!

O seu carro até pode não ser modificado, mas com o chapéu colocado, ele sente-se verdadeiramente um Tuning. O chapéu faz parte do package básico deste grupo! Desconfio até que é a oferta das oficinas mal elas elaboram o orçamento da modificação dos carros.

Com ele na cabeça, o jovem faz uma afirmação social: “Reparem como eu modifiquei este chapéu, hemmm?? Vejam como ele está diferente, notem bem como de algo normal e de utilização lógica fiz um objecto ineficiente para proteger do sol e sem qualquer sentido de utilização, mas com um lindo aleiron traseiro! Eu sou Tuning logo desde a cabeça!!”

PERFECT SENSE

sexta-feira, março 23, 2007

O derradeiro combate

Tenho uma perspectiva absolutamente pacifista da vida.

Nunca bati em ninguém, sempre utilizei a argumentação lógica e racional para resolver conflitos (mesmo quando do outro lado estavam autênticos cérebros de amebas) e, apesar de ser um tipo bastante nervoso em certas situações, sempre consegui desviar a minha fúria para pequenos aparelhos atirados contra a parede (a Nokia e a Motorola já lucraram muito comigo).

Os conflitos bélicos, que eclodem frequentemente um pouco por todo o planeta, são realidades que tento compreender e contextualizar como fenómeno político-económico-social, que têm normalmente causas profundas e consequências dilatadas no tempo.

O que não consigo compreender, em tempo algum, é o que leva alguém arriscar-se a ir para o campo de batalha, com risco da própria vida e com as consequência inerentes para todos os que lhe são queridos, tendo como pano de fundo a defesa de uma entidade tão etérea como a pátria. Em nome da pátria arriscam a vida, a mesma vida que possivelmente muitos deles não arriscariam por um filho, pai, irmão ou amigo.

Reconheço que não partilho o conceito de pátria, tal como é normalmente entendido. Gosto de Portugal, tal como tenho a certeza que gostaria de qualquer outro país onde tivesse nascido e, principalmente, crescido. Não considero os portugueses menos capazes, mas simplesmente o produto de séculos de usufruto dos bens e braços alheios (desde 1415 até ao 25 de Abril de 1974) sem qualquer tendência produtiva.

Interessam-me sim as pessoas. O seu direito a ver a vida preservada, os seus filhos criados decentemente, a sua velhice mantida com dignidade, os seus sentimentos respeitados, sempre com o ideal da liberdade como pano de fundo. Com a certeza que uma pátria que se baseia nestes pressupostos é mais justa, fraterna e decente. Entre uma pessoa e uma pátria não duvido na escolha: O Ser Humano.

Existe uma única perspectiva que me levaria a considerar a participação num conflito, independentemente das suas motivações económico-políticas: A liberdade.

Porque onde existe falta de liberdade existe tudo o resto que é típico de estados totalitários, como a falta de respeito pelos direitos humanos, o desnível absurdo entre classes sociais, a miséria, a perseguição política, social e étnica, entre outras características.

Mas quando falo de conflitos não me refiro a guerras de pseudo-libertações, como muitas delas o são, até porque normalmente os combates pela liberdade travam-se no interior das nações.

Falo sim de um combate pessoal travado em nome de um ideal.

Adoro a liberdade e tenho por ela um respeito enorme, absoluto. O acto de alguém discordar de mim é mais importante do que o contrário, porque só em liberdade tal é possível. A liberdade permite-nos dizer mal dela e não o contrário.

A liberdade permite-nos viver.

quinta-feira, março 22, 2007

Ataques baixos!!

Andar na rua com o passo estugado que me caracteriza é um exercício mais perigoso do que à primeira vista um observador desatento poderá descrever.

E, meus caros(as) leitores(as), devo informar que a responsabilidade por eu sentir, por vezes, que estou a caminhar em plena Avenida principal de Bagdad, é unicamente imputável ao sexo feminino!!

Sim, às mulheres, esse ser criado a partir da costela de Adão e que, por vezes, aparenta possuir um desejo mórbido de partir todas as restantes costelas dos herdeiros do primeiro homem bíblico!!

E dizem vocês: He pá João, lá estás tu com essa mania da perseguição em relação às mulheres!!

E eu respondo simplesmente desta forma: Não tenho qualquer mania da perseguição em relação ao belo sexo. Bem pelo contrário! Eu adoro as mulheres e nada me dá mais prazer do que ver e conviver com uma mulher bonita e charmosa (bem, se o conviver for um pouco mais intimo, então nem se fala!!)

Se ainda desconfiam de perseguição, reparem bem:

Com a temperatura relativamente baixa, a maior parte das mulheres anda na rua de formas:

  • Mãos metidas nos bolsos do casaco, passo largo e decidido mas a uma velocidade normal (pouco perigosas)

  • Mão direita a segurar em ambas as abas do casaco, apertando-as firmemente como se estivesse a tentar esganar-se com violência (inócuas)

  • Passo firme e hirto, velocidade bastante aceitável, e com os braços a ondular num movimento ritmado contrário ao movimento das pernas, como se estivesse a remar contra o vento (perigosíssimas!!)

Porque reparem, em relação a este último grupo, de cada vez que eu tento ultrapassar uma mulher é certo que levo com um dos braços em certas partes do meu corpo, abaixo da cintura e acima dos joelhos que são, digamos assim, mais expostas à dor em caso de contacto físico!! Juro!!

E esta cena ainda piora se a mulher transportar um guarda-chuva, principalmente se for daqueles que possuem um ameaçador bico na ponta, qual baioneta preparada para atacar o inimigo!

É fácil de perceber a angústia que esta situação me provoca: Vou a andar depressa, passo por uma mulher e, Zás, toma lá uma pancada no baixo ventre (sempre gostei desta expressão muito usada nos relatos de futebol para designar uma pancada nos testículos!!), o que tem como consequência um esgar de dor que me coloca os olhos quase fora de órbita e um ligeiro inclinar para a frente, como se de repente o Homem Invisível me tivesse dado uma estalada na parte anterior do pescoço!!

Sim, porque isto desenrola-se no espaço de milésimos de segundo, num espaço público onde as pessoas apenas reparam no meu estranho comportamento.

Imagino logo que os transeuntes que visionaram a cena devem pensar: “Coitado, deve estar com um enorme ataque de cólicas!!”

E, por incrível que pareça, nunca nenhuma mulher parou para pedir desculpas!! Nunca!! Ora, eu não acredito que elas não reparem que acertaram em alguma coisa (Ok, por mais pequeno que vocês possam estar a imaginar que seja, pelo menos atingiram algo um pouco mais concreto do que o ar!!)

Portanto, eu só posso chegar às seguintes hipóteses: as mulheres andam a vingar-se dos homens por esta via; acertaram, gostaram de acertar, e continuam a sua marcha com a consciência malandrinha a pulular de alegria, ou estão absolutamente insensíveis das mãos!!

Sinceramente, ainda bem que o Eduardo Mãos de Tesoura é uma personagem fictícia, porque, caso contrário, e se fosse uma Eduarda, quem não andava na rua era eu!!

quarta-feira, março 21, 2007

Parar também é viver!!

Levanto-me, acordo cedo
vou para um trabalho que para mim não tem segredos
a minha vida não é para atirar ao lixo
não sou coisa nem sou bicho
nem sou carne para canhão, não!

Quem me usa não me merece
só merece o meu desprezo quem abusa
da minha força e da minha competência
e até mesmo da impaciência
de dar de comer aos meus filhos.

É a trabalhar
que a gente pga o jantar
mais foi a trabalhar
que a gente fez a faca para o cortar.

Se hoje ainda vivo afaimado
quem me domina tem os seus dias contados
a minha luta não é sozinho que a faço
tem tantos no mesmo passo
braço a braço somos muitos.

E à noite, quando adormeço
É como fazer a viagem de regresso
para um outro dia, um amanhã mais libertado
com as correntes do passado
e a certeza no futuro.

É a trabalhar
que a gente paga o jantar
mais foi a trabalhar
que a gente fez a faca para o cortar



Foi com o pensamento nesta letra do Sérgio Godinho, esse escritor de canções que domina as palavras com sabedoria e descreve a vida num refrão, que hoje saí do emprego.


O vento gelava sem perdão os transeuntes, alguns dos quais envergando vestes notoriamente insuficientes para a temperatura que se fazia sentir. Mulheres com os braços cruzados contra o corpo numa tentativa desesperada para aquecer o seu corpo exposto à forte brisa e homens a apertarem convictamente as abas dos casacos de encontro ao pescoço desprotegido. Algumas crianças passavam arrastadas pela mão dos progenitores, clamando por descanso ou a berrar impropérios imperceptíveis misturados com o sugar frenético da chucha.


Marchavam estugadamente em direcção ao seu próximo destino, paragem seguinte de uma rotina tantas vezes executada e raramente pensada, contabilizando os minutos, ar preocupado com o tique-taque frenético do relógio e o rosto fatigado pelo dia de trabalho que desejam não repetir e suplicam que se mantenha.


Suspirei em plena rua e, em vez de me dirigir para o Metro, alterei o rumo, marquei novas coordenadas no meu mapa mental e subi toda a Av. 5 de Outubro, ultrapassei as Picoas, desci a Sousa Martins e subi toda a Luciano Cordeiro até, depois, chegar ao meu destino!!


Verifiquei que o prédio que estava a ser construído ao pé da Duque D'àvila já tem ar de estar habitado; reparei que o Sheraton já não está em obras na fachada e tem uns focos ténues de luz em cada janela; que à sua frente está a ser construído um prédio onde está um guindaste diferente do habitual, mais pequeno e com um ar ligeiramente frágil; Notei que na Sousa Martins existe um novo restaurante japonês num prédio recente e, por fim, relembrei-me que a Luciano Cordeiro é demasiado grande para quem vem de tão longe!!


Estou numa fase em que recupero forças pessoais e volto a gostar de certos prazeres que sempre tive e estiveram em repouso: a leitura, o cinema, a música, a escrita, a discussão de ideias e temas do mais variado espectro à mesa de um café, e o gostar de saborear os pequenos detalhes que, normalmente, são os que fazem a diferença na nossa existência.


Nesta altura, sinto um enorme desejo de berrar compulsivamente e perguntar se não podemos parar um bocadinho; alterar os ritmos, abrandar o passo, olhar em redor e tentar conhecer os sítios por onde passamos mas nem olhamos, quebrar a rotina, ser criança novamente nem que seja por 5 minutos: Enfim, VIVER!!



P.S. - Este post é dedicado a quem hoje, com 3 singelos pontos, ajudou-me a voltar a este meu canto!