quarta-feira, março 21, 2007

Parar também é viver!!

Levanto-me, acordo cedo
vou para um trabalho que para mim não tem segredos
a minha vida não é para atirar ao lixo
não sou coisa nem sou bicho
nem sou carne para canhão, não!

Quem me usa não me merece
só merece o meu desprezo quem abusa
da minha força e da minha competência
e até mesmo da impaciência
de dar de comer aos meus filhos.

É a trabalhar
que a gente pga o jantar
mais foi a trabalhar
que a gente fez a faca para o cortar.

Se hoje ainda vivo afaimado
quem me domina tem os seus dias contados
a minha luta não é sozinho que a faço
tem tantos no mesmo passo
braço a braço somos muitos.

E à noite, quando adormeço
É como fazer a viagem de regresso
para um outro dia, um amanhã mais libertado
com as correntes do passado
e a certeza no futuro.

É a trabalhar
que a gente paga o jantar
mais foi a trabalhar
que a gente fez a faca para o cortar



Foi com o pensamento nesta letra do Sérgio Godinho, esse escritor de canções que domina as palavras com sabedoria e descreve a vida num refrão, que hoje saí do emprego.


O vento gelava sem perdão os transeuntes, alguns dos quais envergando vestes notoriamente insuficientes para a temperatura que se fazia sentir. Mulheres com os braços cruzados contra o corpo numa tentativa desesperada para aquecer o seu corpo exposto à forte brisa e homens a apertarem convictamente as abas dos casacos de encontro ao pescoço desprotegido. Algumas crianças passavam arrastadas pela mão dos progenitores, clamando por descanso ou a berrar impropérios imperceptíveis misturados com o sugar frenético da chucha.


Marchavam estugadamente em direcção ao seu próximo destino, paragem seguinte de uma rotina tantas vezes executada e raramente pensada, contabilizando os minutos, ar preocupado com o tique-taque frenético do relógio e o rosto fatigado pelo dia de trabalho que desejam não repetir e suplicam que se mantenha.


Suspirei em plena rua e, em vez de me dirigir para o Metro, alterei o rumo, marquei novas coordenadas no meu mapa mental e subi toda a Av. 5 de Outubro, ultrapassei as Picoas, desci a Sousa Martins e subi toda a Luciano Cordeiro até, depois, chegar ao meu destino!!


Verifiquei que o prédio que estava a ser construído ao pé da Duque D'àvila já tem ar de estar habitado; reparei que o Sheraton já não está em obras na fachada e tem uns focos ténues de luz em cada janela; que à sua frente está a ser construído um prédio onde está um guindaste diferente do habitual, mais pequeno e com um ar ligeiramente frágil; Notei que na Sousa Martins existe um novo restaurante japonês num prédio recente e, por fim, relembrei-me que a Luciano Cordeiro é demasiado grande para quem vem de tão longe!!


Estou numa fase em que recupero forças pessoais e volto a gostar de certos prazeres que sempre tive e estiveram em repouso: a leitura, o cinema, a música, a escrita, a discussão de ideias e temas do mais variado espectro à mesa de um café, e o gostar de saborear os pequenos detalhes que, normalmente, são os que fazem a diferença na nossa existência.


Nesta altura, sinto um enorme desejo de berrar compulsivamente e perguntar se não podemos parar um bocadinho; alterar os ritmos, abrandar o passo, olhar em redor e tentar conhecer os sítios por onde passamos mas nem olhamos, quebrar a rotina, ser criança novamente nem que seja por 5 minutos: Enfim, VIVER!!



P.S. - Este post é dedicado a quem hoje, com 3 singelos pontos, ajudou-me a voltar a este meu canto!

2 comentários:

André disse...

Só te digo: até que enfim!!!

João Pinto disse...

André: I´m back my friend!!