domingo, março 25, 2007

Contributo para uma análise social do Tuning (Ou, como não entendo nada disso e vou mandar umas bocas!!)

O Tuning sempre foi uma realidade cuja essência nunca consegui alcançar em toda a sua plenitude. E, dado que também não se pode dizer que tenha uma notável abrangência de pensamento, certamente que a culpa é minha.

Vejamos, o Tuning caracteriza-se por determinados conceitos e práticas que encerram uma filosofia de actuação muito própria.

Normalmente os tunings adquirem carros baratos e populares (Fiat Punto; Citroen Saxo; Peugeot 206 são os mais utilizados) para, de seguida, gastarem pequenas fortunas a transforma-los com vista a tornar a viatura 20 Km mais rápida, habitualmente com recurso aos seguintes elementos, de modo obter a cópia terrestre de um caça F16:

- um tubo de escape de duas vias com características sonoras que o aproximam de um Airbus 320.

- 5 aleirons e saias laterais (mas o que leva tipos que querem dar ar de duros falarem embevecidamente das saias dos seus pretensos bólides??);

- Vidros escurecidos, para fumar umas ganzas à vontade e abusar sexualmente da esteticista vacarrona lá do bairro suburbano.

- Implantes metálicos no interior em quantidade suficiente para erigir duas pontes sobre o Tejo.

- Um botão com a inscrição “Nitro”

- Rebaixamento do carro, que significa, para aqueles que não sabem, diminuir a distância entre o chão e o chassis do mesmo, o que constitui, como é evidente para qualquer alma iluminada, a acção mais correcta para as estradas de alcatrão liso e sem buracos que caracterizam as vias portuguesas.

- Aparelhagem sonora com uma potência em termos de décibeis capaz de implodir um edifício de 5 andares. Para tal efeito, munem os carros com amplificadores que os organizadores do Rock in Rio Lisboa adorariam ter, Woofers e Subwoofers por baixo de todos os assentos e colunas instaladas no que, antigamente, era o porta-bagagens.

Ainda não percebi se esta tendência para debitar um som que ultrapassa largamente um concerto dos Metallica é derivado de problemas de surdez ou um qualquer ritual de aproximação entre clãs, tipo “He pá, parece que o Zeca Chibatas vem aí, já lhe estou a ouvir o cantante, daqui a 20 minutos está cá”. Normalmente o ritmo sonoro destas “músicas” pode ser definido da seguinte forma: “Pum; Pum; Pum; Untz; Untz; Untz; Pum; Pum; Pum; Untz; Untz” prosseguindo com um “iiiiiiiiuuuuuuuaaaaaaiiiiiiiiiiiiii” prolongado, regressando aos “Pum; Pum; Pum; Untz; Untz; Untz!!”

- Por fim, a instalação de luzinhas estroboscópicas e fluorescentes que colocam no interior e exterior do carro, o que, à noite, dá o efeito original equivalente a um frigorífico com a porta aberta numa cozinha escura.


Com estas transformações, o possante Fiat Punto está preparado para atingir a vertiginosa velocidade de 140 Km/hora, enquanto emite um ruído ensurdecedor quer do tubo de escape, quer da aparelhagem sonora. Aproveitam então para se juntar a um bando de Tunings que organizam corridas clandestinas onde se pavoneiam perante uma plateia composta por outros Tunings e elementos do sexo feminino cuja única frase que compreendem à primeira é “Anda cá minha linda, toca-me aqui na alavanca de velocidades!!”.

Nestas corridas levam as suas máquinas a atingir os seus limites mecânicos e, por vezes, acabam por compreender da pior forma que a linha que separa a estrada e o poste de electricidade é muito ténue.

Caracteristicamente, e fora dessas corridas e demonstrações de masculinidade primária (sempre achei que o tubo de escape duplo continha em si uma projecção fálica dos seus proprietários!!), os Tunings são extremamente cuidadosos. Passam horas a lavar, polir, aspirar e limpar as viaturas, como se estivéssemos perante uma obra-prima da arte.

E, caso passem por uma lomba ou elementos redutores de velocidade (bandas), são tão cuidadosos que, por vezes, provocam filas intermináveis!!

E porquê?? Porque rebaixaram os carros. O ruído característico de um carro tuning nestas circunstâncias é o seguinte: VRRRUMMMMMMMMMMMMM!! (mete a quinta) VREEEEEEUUMMMMMMMMMMMM; ihihihihihiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiihihihihhiiii (aproximação a uma banda redutora de velocidade) hiiiiiiiiiiiiiiiiiii vraaaaaeaaaeaaaaeaaae (1 Km/hora a passar cuidadosamente a banda de modo a não partir o chassis ao meio) vreeeeeeeeeeeeeeeeeee (a traseira do carro acaba de passar a banda) VRUMMMMMMM (primeira) VRUUUUUUMMMMMMM (segunda) VRUUUUUUMMMMMMMMMMMM (terceira) ihihihihihihihihihiiiiiiiiiiihihihiiiiiiiiiiiiiiiiiii (Porra, outra banda?????).


Mas, meus caros amigos(as) deixei propositadamente para o fim o elemento mais importante de um verdadeiro tuning, aquilo que o define em qualquer lugar e tempo:

- O chapéu com a aba para trás!!

O seu carro até pode não ser modificado, mas com o chapéu colocado, ele sente-se verdadeiramente um Tuning. O chapéu faz parte do package básico deste grupo! Desconfio até que é a oferta das oficinas mal elas elaboram o orçamento da modificação dos carros.

Com ele na cabeça, o jovem faz uma afirmação social: “Reparem como eu modifiquei este chapéu, hemmm?? Vejam como ele está diferente, notem bem como de algo normal e de utilização lógica fiz um objecto ineficiente para proteger do sol e sem qualquer sentido de utilização, mas com um lindo aleiron traseiro! Eu sou Tuning logo desde a cabeça!!”

1 comentário:

Sem disse...

Hilariantemente verdadeiro! Genial, mesmo genial! LOLLLLLL