quarta-feira, maio 09, 2007

A teologia dos caracóis

Eu gosto de caracóis!!

Perdão, vou corrigir devidamente a minha anterior afirmação: Eu ADORO caracóis!!!

É com uma alegria incomensurável que ultrapasso os longos meses de Inverno para ver despontar na primavera as placas embutidas nas vitrinas dos restaurantes e cafés a anunciar o bondoso rastejante.

Todavia, tenho consciência de que existe uma massa anónima de pessoas que não nutre especial simpatia por este petisco. Fazem caretas, olham para o lado, questionam a nossa sanidade mental perante a imagem do minúsculo animal a ser apunhalado ferozmente por um palito, para de seguida ser retirado da sua carapaça de modo a satisfazer o palato do guloso comensal.

Milhares de homens mulheres e crianças desconhecem em absoluto o prazer de comer caracóis e, no seguimento do meu já conhecido altruísmo, decidi tentar demonstrar alguns pontos nem sempre reconhecidos e analisados da arte gastronómica deste pitéu lusitano.


1 – O caracol é um animal intrinsecamente gregário

De facto, o bicho individualmente não vale nada! Zero, nicles!! Nem sequer um pequeno bando de 10 faz grande diferença. Um só caracol representa tanto para o nosso prazer degustativo como o Paulo Portas para a democracia portuguesa.

No entanto, em grupo, são devastadores!! Empilhados anarquicamente numa travessa acabada de pousar numa mesa de café representam um autêntico exército que suplica por atenção dos alegres fregueses, não dando azo a qualquer desatenção da nossa parte até ao último bicharoco estar nas nossas profundezas digestivas.


2 – O caracol tem graves problemas com o álcool.

Cheguei à conclusão de que os caracóis têm uma dependência excessiva de bebidas alcoólicas, nomeadamente da cerveja.

O problema é que, uma vez instalados num corpo estranho (o nosso), estes aliensinhos nacionais transportam para o seu hospedeiro essa necessidade orgânica, obrigando-nos a consumir quantidades inauditas de imperiais.

Desta forma, é frequente ouvir-se os devoradores de caracóis comentarem posteriormente:

"Não sei como fui capaz de beber tanto!", ou "15 imperiais, nããã, eu não pude beber 15 imperiais!!" ou ainda "não sei o que me deu na cabeça para beber tanto ontem à noite, hoje vou passar horrores no emprego!!"

3 – Os caracóis provocam ataques de obsessão quase de índole psiquiátrico.

Observem atentamente este quadro e verifiquem se vos é familiar:

Uma travessa de caracóis terá o equivalente a 150 carapaças. Vamos comendo os caracóis, alguns mais simpáticos já com a testa de fora para se deixar comer, outros mais tímidos, enfiados na sua protecção, encostaditos lá atrás. Para estes malandros, utilizamos a nossa espada de Damocles, o palito, de modo a puxar o corpo inerte da sua última morada. Todavia, alguns são teimosos, e resistem a todas as nossas investidas com garbosa valentia, recusando-se a abandonar o lar.

E nós, membros da raça humana, que já conquistou a lua, alcançou um desenvolvimento tecnológico absolutamente notável e tem um arsenal bélico capaz de destruir o sistema solar, damos por nós a travar uma nervosa batalha com um bicho minúsculo, falando com ele, atirando-lhe palavrões em direcção aos seus corninhos escondidos, até que, por fim, rendemo-nos fatigados, com o ar mais inconsolável do mundo e atiramos o animal para o prato como se ele fosse responsável por todas as pestes e fomes do planeta.

E o mais estúpido é que o raio do bicho representa cerca de 0,5% da população disponível para deglutição na travessa e perdemos 2 minutos com ele, enquanto o nosso companheiro de mesa, que teve a sorte de não apanhar com um destes teimosos, devorou quase a travessa inteira!!

Qualquer estratego militar ficaria com os nervos em franja perante este comportamento!!


4 – O caracol e o comportamento infantil dos adultos.

Um cidadão entra num café, tasca, qualquer local de restauração nacional, e visiona a imagem de seres crescidinhos, com idade para terem juízo, a emitirem um som de fundo com a seguinte nota dominante: “scchuuurpp”, ao mesmo tempo que levam a carapaça liliputiana do caracol à boca.

Bela imagem, não é??

Façam um exercício: à porta de uma tasca, solicitem ao homem que tiver o aspecto mais "pintas do bairro" que lá estiver para chupar um calippo e saem de lá com a cana do nariz rachada, na melhor das hipóteses!!

Ofereçam-lhe uma travessa de caracóis e irão verificar que ele chupa com devota ternura e cuidado todo e qualquer bicharoco do recipiente, com um sorriso nos lábios de satisfação

Bela imagem esta também, não é??


Desta forma, espero ter de alguma forma contribuído para o incremento do conhecimento geral sobre este petisco tão apreciado. Caso desejem contribuir para este blog, podem sempre pagar umas travessas de caracóis!!

10 comentários:

André disse...

bbbllhhhaaaarrrgggggggggg

Patrícia Sousa Cardoso disse...

como diz o meu irmão, bbbllhhhaaaarrrgggggggggg

moimeme disse...

Hummmm Adoro caracóis e caracoletas assadas com molho de mostarda!!

Frontwave disse...

bbbllhhhaaaarrrgggggggggg? Mas como bbbllhhhaaaarrrgggggggggg?
Isso deve ser genético! Paulo, bora já levar a Maria a comer uma granda caracolada, mesmo que ela acompanhe com cerveja (que se lixe, é por uma boa causa)antes que isto se manifeste nela!!!
Ou então bora só comer uma granda caracolada. Hmmm snailss... nham nham chlép.. AAHHHHH!!!

André disse...

Muito honestamente nunca provei, mas também não quero, não gosto do aspecto daquelas coisas. Até posso gostar, admito, mas não me parece que os vá provar tão cedo.

Patrícia Sousa Cardoso disse...

He!He!He! Sergio, a Maria já gostou de caracois, mas (felizmente) deixou de gostar!! Lembro-me do sacrificio que fazia ao retirar com o palito a dita lesma da sua casa...bbbllhhhaaaarrrgggggggggg!!!O que uma mãe é capaz de fazer para satisfazer a sua filha!!!bbbllhhhaaaarrrgggggggggg

Não gosto e apesar do aspecto repugnante do dito alimento, já provei podendo compravar que o sabor não é agradavél!!

bbbllhhhaaaarrrgggggggggg

André disse...

Sendo assim, agora é que nunca provarei mesmo!!!

Frontwave disse...

Patrícia, resta-me então a esperança que seja apenas uma fase e que a Maria volte a gostar de caracóis... se não como é que eu vou fazer para conhecer as amigas dela daqui a 15 anos? ;-)

Agora a sério: um amigo meu inglês veio cá e onde é que eu o levei? Exactamente, a comer caracóis (de qualquer maneira envolvia cerveja portanto ele ficava sempre satisfeito). E sim, ele provou! Bom, diz que o sabor não é mau mas, e passo a citar "I can't stand to look at it in the eyes and then just eat it.". Penso que depois daquela tarde ele não mais provou caracóis... eu esforço-me por comer a parte dele! Nham nham chlep chlep, hmmmmm caracóis, AAAHHHHHH...

Frontwave disse...

André, a sério que nunca provaste? Sendo amigo de quem és, até custa a crer!
Olha, o Quico devia gostar de certeza!
Experimenta, não sabes o que estás a perder! Eu também não gostava de cerveja e agora... bom, o facto de cada vez ter menor ângulo de visão sobre os meus pés diz-me que seria melhor continuar sem gostar...

disse...

João bastou-me só ler " eu adoro caracóis"!!!
Eu também adoro caracóis, como tal quando quiseres pagar uma travessa deles tas a vontade!!!!