segunda-feira, dezembro 26, 2005

As lides da casa

Reconheço que sou um dos felizes contemplados com o facto de uma senhora ir fazer as lides da casa semanalmente, evitando desta forma os múltiplos inconvenientes derivados do exercício de arrumação e limpeza, nomeadamente essas actividades tão radicais como a escalada do escadote, o levantamento de sofás e o skateboard do pano do pó.
Com uma pontualidade britânica, lá aparece a fada do lar para pôr em ordem as toneladas de roupa para passar a ferro, aspirar a casa, limpar o pó, fazer as camas de lavado, entre outras actividades domésticas que ela exercita com afinco, e que eu dispenso com satisfação.
Reconhecendo a sua utilidade para um quotidiano mais desafogado de trabalho doméstico, não posso deixar todavia de tecer diversas considerações, que julgo serem extensíveis à generalidade das mulheres, seja por terem sido educadas nestes moldes, seja por o seu código genético ter sofrido um grave curto-circuito aquando a sua geração (eu vou mais por esta opção, até atendendo a múltiplos comportamentos anómalos que verificamos no género feminino!!).
Quando chego a casa observo com admiração certas situações que para mim são, no mínimo, contraproducentes e inócuas.
Em primeiro lugar, as camisas!!! Derivado da minha actividade profissional, tenho de usar fato, e sempre que saco uma camisa do roupeiro detecto logo a mais aberrante da situação: É inevitável que uma camisa para usar com o fato (e em consequência com a horripilante gravata) não tenha os botões do colarinho abotoados.Agora pergunto: Para quê????? Eu tenho de desabotoar, colocar a gravata e abotoar novamente (coisa que geralmente até me esqueço de efectuar!!). Tenho o dobro do trabalho, numa altura extremamente difícil para a existência humana (o acordar).E o mais estranho é que por mais que eu diga à senhora para não abotoar os botões do colarinho, ela esquece-se sempre, como se estivesse possuída por uma estranha força sobrenatural que lhe comunica "abotoa isso!! Não lhe dês ouvidos!!! ABOTOA!!!!".
Por outro lado, à noite quando me vou deitar na cama feita de lavado, e pego no edredon para o puxar para trás verifico com espanto que está entalado por debaixo do colchão nas partes laterais. Quando finalmente, com esforço hercúleo, lá consigo desentalar o edredon de lado, inevitavelmente arrasto também o lençol de baixo que estava perfeitamente entalado no colchão sem uma única ruga dando origem desta forma a uma espécie de sistema montanhoso.Agora vem a pergunta inevitável: Porquê??? Existe alguma razão lógica para entalar o edredon, cobertor, lençol de cima por debaixo do colchão pela parte lateral???? Chego a uma única conclusão: É um ritual sádico da parte da minha empregada.
Outra situação que observo é a necessidade traumática de espalhar objectos pelos móveis, como se colocasse tropas por um campo de batalha. Luta furiosamente por não detectar um único centímetro quadrado de madeira à vista.As prateleiras da estante estão cheias de livros??? Que importa, é preciso é colocar cinco pratos de porcelana chinesa à frente!! Os cd's?? Que objectos aborrecidos, fica muito melhor uma caixa monstruosa de madeira perfumada do Paquistão!! Os dvd's??? Que se lixem, o que fica bem é o conjunto em barro de canídeos adquiridos numa qualquer viagem à Serra da Estrela.!!
E muito mais haveria por dizer!! Não há dúvida de que as mulheres têm concepções estéticas completamente diferentes dos homens.Penso que nós aliamos preferencialmente a estética à utilidade e simplicidade de acção, enquanto as mulheres vêem a estética como se não vivessem na casa e à necessidade de preenchimento de espaços vazios. (deve ser de lerem muitas revistas de decoração!!).
Se não concordam com o que eu escrevi, tentem não bater num quadro, num boneco, num prato ou jarro por mais de meia hora, e vão ver que é mais fácil atravessar a Amazónia do que efectuar este aparentemente simples exercício!!!!

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